Governo de Lula criticado por "tragédia anunciada"

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Na véspera, dois aviões já tinham deslizado na pista

Mais um português morreu num acidente aéreo no Brasil. Pedro Miguel Abreu, de 37 anos, imigrante nos EUA, foi uma das vítimas do acidente com um Airbus 320 da TAM (Táxi Aéreo Marília), na terça-feira à noite, no aeroporto de Congonhas (São Paulo). O número de mortos ainda não é conhecido. Teme-se que sejam mais de 200. Em Setembro de 2006, outro português tinha morrido na queda de um avião da Gol, na Amazónia. Os dois acidentes, os maiores na história da aviação brasileira, são o espelho da crise do sector neste país.

Ao início da noite, o avião da TAM tentou aterrar no mais movimentado aeroporto de São Paulo, mas acabou por deslizar para fora da pista. Após sobrevoar a avenida Washington Luis, o aparelho embateu contra um armazém da TAM Express e uma bomba de gasolina, ouvindo-se de imediato uma explosão. Além das 186 pessoas que seguiam no voo 3054 da TAM, há um número indeterminado de vítimas em terra; 173 corpos já foram encontrados.

A caixa negra do avião já foi recuperada e será analisada nos EUA. Mas as primeiras investigações indicam que o aparelho seguia a uma velocidade superior ao normal. Uma das câmaras de vigilância registou durante três segundos a passagem do avião, quando o habitual seriam dez segundos. Além disso, a pista esteve em obras até 26 de Junho e foi considerada operacional apesar de faltar concluir os sulcos (grooving) que ajudam à drenagem e à travagem do avião. O último grande acidente em Congonhas ocorreu em 1996 e fez 99 mortos.

Para a opinião pública brasileira, o Governo é o culpado do acidente, por nada ter feito desde a queda do primeiro avião. O jornal O Globo diz que foi " uma tragédia anunciada". O Jornal do Brasil vai mais além e frisa em manchete: "A Mais Anunciada das Tragédias" e, em editorial, pergunta: "Quantos mais ainda morrerão?" O Presidente Lula da Silva decretou três dias de luto e pediu a abertura de um inquérito às condições da pista.

Um dia antes do acidente, dois aviões derraparam na mesma pista de Congonhas. Mas nem isso serviu de alerta para as autoridades, que deixaram tudo como estava. "O que explodiu não foi só o Airbus da TAM. Foi também o resquício de credibilidade que ainda sobrava do sistema de voo no país e a capacidade de o Governo gerir a situação. O que há é o caos", escreveu a colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde.

Desde a queda do avião da Gol, os controladores aéreos fizeram greve, denunciaram que operavam com aparelhos obsoletos e pediram para passar para o controlo civil. O Governo afastou o comandante da Aeronáutica, mas não modernizou o sistema. O Congresso criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a "CPI do Apagão Aéreo", que levantou problemas mas não trouxe soluções.

Desde então, houve longas esperas nos aeroportos, atrasos de voos e até prisões de controladores aéreos. A instabilidade continuou apesar de Lula ter dito que queria " dia e hora" para o fim da crise - o que alguns apontam agora como razão para o apressar da utilização desta pista.

O enfraquecimento da Varig - que hoje só usa 10% da sua antiga frota - pode ter contribuído para a actual crise, junto com o inesperado crescimento da Gol e da TAM, que não estavam preparadas para tanta procura. E o Governo não modernizou equipamentos nem atendeu a pressões para impedir aterragens em pistas consideradas pouco seguras. Com SUSANA SALVADOR

Português vivia em Miami e viajava em trabalho

EUA. Pedro Miguel Abreu, irmão de um jornalista da SIC, era quadro do banco Santander

Foram os familiares de Pedro Miguel Abreu, de 37 anos, que informaram as autoridades da presença do português a bordo do voo 3054 da TAM, que na terça-feira à noite se incendiou após embater num edifício ao falhar a aterragem no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O português foi uma das vítimas mortais do acidente. Casado e com dois filhos menores, Pedro Abreu vivia em Miami, nos EUA, onde trabalhava numa sucursal do banco Santander, e tinha-se deslocado ao Brasil por motivos profissionais, apurou ontem o DN. Pedro Abreu era irmão do jornalista da SIC, João Abreu, ex-editor de desporto.

Segundo informou a agência Lusa, citando o embaixador de Portugal no Brasil, Seixas da Costa, um irmão de Pedro Abreu chegará hoje a São Paulo para ajudar na identificação do corpo, que será depois trasladado para Portugal. Segundo a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, o número de telefone de emergência disponibilizado pelas autoridades atendeu mais de 400 chamadas.

Além do português, havia pelo menos mais quatro estrangeiros a bordo do avião. Segundo o presidente da TAM, Marco Bologna, há registo de um argentino e de um peruano entre os passageiros. Além disso, Paris confirmou a presença de dois franceses a bordo, havendo ainda um outro desaparecido - alegadamente estaria perto da zona em que o avião embateu.

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